Febre Tifoide: Sintomas e diagnóstico

Agente Causador 

A febre tifoide, também conhecida como tifo, é uma infecção invasiva grave que afeta a corrente sanguínea e tecidos reticuloendoteliais profundos. O agente causador dessa síndrome clínica é a Salmonella enterica subespécie enterica sorovar Typhi (S. Typhi).

Diagnóstico de Febre Tifoide e sintomas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define um caso confirmado de febre tifoide como aquele em que há confirmação laboratorial da presença de S. Typhi, seja por cultura ou por métodos moleculares, como a detecção de DNA da bactéria em locais estéreis. Além disso, define um caso suspeito como uma pessoa com febre persistente em áreas endêmicas ou após viagem para essas regiões. O diagnóstico clínico em locais com recursos limitados pode ser impreciso, uma vez que os sintomas da febre tifoide são semelhantes a outras condições infecciosas.

O tifo foi a primeira doença humana em que se demonstrou a transmissão por portadores assintomáticos. Estima-se que cerca de 2 a 5% dos casos agudos de tifo resultem em portadores assintomáticos crônicos, caracterizados por indivíduos aparentemente saudáveis que continuam a eliminar a bactéria nas fezes por pelo menos 12 meses após o tratamento e a resolução dos sintomas.

Este artigo abordará a epidemiologia da febre tifoide, com foco nos modos de transmissão, fatores de risco e resposta do hospedeiro à infecção. Além disso, discutiremos as tendências globais da resistência antimicrobiana e as opções de tratamento, ressaltando a necessidade de melhorias nos diagnósticos clínicos e epidemiológicos.

Transmissão da Febre Tifoide

A S. Typhi é transmitida principalmente por via fecal-oral, e a cultura de sangue permanece o padrão de diagnóstico em locais com infraestrutura adequada. No entanto, a resistência antimicrobiana crescente tem tornado o tratamento desafiador em algumas partes do mundo. A melhora nas condições sanitárias, no tratamento da água potável e na segurança alimentar são essenciais para a redução da incidência da doença.

Epidemiologia

Reservatório, Fonte e Modo de Transmissão

A S. Typhi é restrita aos humanos e não possui um reservatório animal. Ela é eliminada nas fezes humanas a partir de locais de infecção na vesícula biliar e no intestino delgado. Em áreas de alta incidência, com infraestrutura sanitária deficiente, a principal fonte de novas infecções é a transmissão indireta por meio de água e alimentos contaminados com fezes de indivíduos infectados. A transmissão pode ocorrer tanto durante a infecção aguda quanto na convalescença ou em portadores crônicos. Em locais onde a incidência da febre tifoide está diminuindo, o tratamento de portadores crônicos com antimicrobianos e, em alguns casos, a colecistectomia, pode ser necessário para prevenir novas infecções.

 

Impacto da doença

Estudos mostram que a S. Typhi é a principal causa de infecções de corrente sanguínea de origem comunitária no sul e sudeste da Ásia e uma causa importante, embora menos proeminente, na África. Em 2017, estimou-se que a febre tifoide causou cerca de 10,9 milhões de casos e 116.800 mortes globalmente, com uma taxa de letalidade de aproximadamente 0,95%. A incidência global de febre entérica foi estimada em 197,8 casos por 100.000 pessoas-ano, sendo que a febre tifoide especificamente foi responsável por 130,96 casos por 100.000 pessoas-ano.

O sul da Ásia apresentou a maior taxa de incidência padronizada por idade de febre entérica, com 549 casos por 100.000 pessoas-ano, responsável por 71,8% dos casos globais em 2017. Em contraste, a África Subsaariana contribuiu com 12,1% dos casos, com uma incidência variando de 151 a 161 casos por 100.000 pessoas-ano nas regiões oeste e leste do continente. Para estimar o fardo global da doença, métodos de vigilância ativa e híbrida são utilizados, complementados por dados de complicações maiores, como a perfuração intestinal e a taxa de letalidade.

Em termos de impacto na saúde, em 2017, a febre entérica foi responsável por 8,4 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade, sendo 8,3 milhões de anos perdidos por morte prematura e 105.000 anos vividos com incapacidade.

No Brasil, seus números vêm caindo, mas ainda é considerada uma doença endêmica no Norte do país.

Fatores de Risco da Febre Tifoide

Idade

A febre tifoide é observada desde a infância em regiões de alta e média incidência, com pico global entre 5 e 9 anos de idade. No entanto, há variação considerável entre regiões e países. Em áreas de alta incidência, a infecção pode ser observada até mesmo entre lactentes, enquanto em regiões de incidência média, o pico ocorre em crianças mais velhas ou jovens adultos. A incidência tende a diminuir gradualmente com a idade até a idade adulta, e é tipicamente baixa em populações idosas. A imunidade adquirida após a exposição ao patógeno contribui para essa distribuição etária variável.

Exposições Ambientais

Um estudo sobre febre tifoide verificou que higiene adequada e o tratamento da água foram associados à proteção contra a febre tifoide, enquanto a falta de higiene e o consumo de água não tratada aumentaram o risco. Práticas alimentares higiênicas foram associadas a menor risco, enquanto práticas de risco, como o consumo de alimentos fora de casa, aumentaram as chances de infecção.

Um ensaio clínico randomizado que avaliou a vacina conjugada contra o tifo (TCV) também observou que viver em domicílios com melhores práticas de WASH foi associado a uma redução significativa na incidência da febre tifoide, independentemente da intervenção vacinal. Em países não endêmicos, os casos de tifo geralmente estão relacionados a viagens recentes para regiões endêmicas ou contato com viajantes infectados.

Fatores Genéticos Humanos

Estudos de associação genômica ampla identificaram a presença de marcadores genéticos na região do HLA classe II, particularmente próximos aos genes HLA-DQB1 e HLA-DRB1, que foram associados ao risco aumentado de infecção. Esses achados foram replicados em grandes coortes no Nepal e no Vietnã, sugerindo que esses genes desempenham um papel importante na resistência contra a febre entérica.

Fatores Sazonais e Ambientais

A febre tifoide apresenta padrões sazonais distintos, mais pronunciados em regiões distantes do equador. Além disso, o aumento da temperatura foi correlacionado com a maior incidência da doença em várias regiões do mundo. Mudanças climáticas que afetam a contaminação fecal da água e dos alimentos, como inundações ou escassez de água, podem estar associadas ao aumento do risco de febre tifoide.

Conclusão

A febre tifoide continua sendo uma ameaça significativa à saúde pública em muitas partes do mundo, especialmente em regiões de baixa e média renda. Embora melhorias em saneamento, acesso à água potável e segurança alimentar possam reduzir a incidência da doença, o avanço da resistência antimicrobiana e a variabilidade na apresentação clínica reforçam a necessidade de melhores métodos diagnósticos e estratégias de controle. A imunização com vacinas conjugadas e intervenções direcionadas para populações de maior risco, incluindo crianças e aqueles expostos a ambientes insalubres, são essenciais para a prevenção eficaz e redução do impacto global dessa infecção.

Referências

Meiring, J. E., Khanam, F., Basnyat, B., Charles, R. C., Crump, J. A., Debellut, F., Holt, K. E., Kariuki, S., Mugisha, E., Neuzil, K. M., Parry, C. M., Pitzer, V. E., Pollard, A. J., Qadri, F., & Gordon, M. A. (2023). Typhoid fever. Nature reviews. Disease primers9(1), 71. https://doi.org/10.1038/s41572-023-00480-z
 

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